Munnar E Os Campos De Chá, Em Kerala, Índia

23rd February 2016

As mais de quatro horas de viagem – de Thekkady a Munnar – deixaram-nos um pouco moles mas a paisagem, com as plantações verdes de chá, fizeram todos sair dos lugares do autocarro para apreciar este sítio deslumbrante.

A estrada é aos “esses”, com pouco espaço para o nosso autocarro se cruzar com outros automóveis (bem que nos avisaram que normalmente muita gente enjoa a fazer esta viagem), ainda assim conseguimos fazer uma paragem num restaurante muito bom, o Spice Tree. Este, tem vista para os verdes montes, que já nos tinham despertado a atenção, “obrigando-nos” a parar para fotografar os primeiros campos de chá em Poopara.

Munnar é uma pitoresca vila de Kerala, na Índia, elevada a 1800 metros de altitude na região das Altas Montanhas. Munnar significa “Três Rios” já que é aqui onde se encontram os cursos de água: Kundala, Mudrapuzha e Nallathanni.
Com esta abundância de águas consegue-se perceber como a sua paisagem é tão verde e também porque é conhecida pela produção de chá. Munnar tem 24 mil hectares de plantações de chá, criadas pelos ingleses desde 1878 – esta área foi uma estância de férias durante a governação inglesa, no sul da Índia.

Na primeira noite, a uns 10 minutos do centro de Munnar, ficámos alojados no Tea County, ou não estivéssemos nós em terra de chá.

Metemos os pés à estrada e fomos descobrir o centro da vila.
Era domingo mas tudo estava aberto, as lojas e até os mercados de fruta, peixe, legumes, etc… As bancas do mercado deviam receber um prémio, de tão organizadas que estavam no meio de um caos de gente e cheiros.

Quando passámos a ponte grande de Munnar, um grupo de três rapazes diz-nos olá e percebemos imediatamente que querem conversar connosco, principalmente para praticarem o inglês.
– Estão a visitar Munnar só hoje ou vão ficar mais?
– Na verdade estamos a visitar toda a região de Kerala, mas só ficamos aqui um dia.
– O que fazem?
– Escrevemos sobre viagens.
Um deles avança com um forte aperto de mão, e os outros dois imitam-no. Apresentam-se todos, com os nomes, e perguntam os nossos. Tudo ali. No meio da ponte.
– E vocês moram cá? – pergunto eu.
– Não, moramos numa vila aqui ao lado de Munnar, mas viemos aqui passar o domingo.
Vêem as nossas câmaras fotográficas e perguntam:
– Mmmm… querem tirar umas selfies connosco?
– Ok!
Depois de uma fotografia…
– Vamos ali só chamar os nossos amigos e tiramos todos fotografias, ok?
Caminhamos uns metros e lá estão uns amigos num carro muito estimado e limpo. Parecia novo. Começam a sair do carro… 1, 2, 3… aparecem mais 3 e, de repente, estamos a tirar fotos e selfies com 8 desconhecidos. A alegria deles em partilhar este momento fotográfico era muito grande. Para nós também foi um domingo muito especial, ao conhecê-los.

Na segunda noite, em Munnar, ficámos instalados num parque de campismo com enormes tendas, camas e sacos-cama quentinhos, já que durante a noite a temperatura desce drasticamente nesta zona de floresta. Este local é conhecido como a Floresta das Borboletas, por causa da migração em massa de borboletas, entre outubro e novembro.

Suryanelli é o nome do local onde está este acampamento da Kalypso Adventures (que conta com bastantes casas de banho e chuveiros… e água quente!), que pode acolher até 200 pessoas, e onde muitas empresas vêm fazer teambuilding.

A Kalypso Adventures tem base em Kerala e fornece aventuras a pedido dos clientes. Quem quiser pode fazer trekking nas montanhas, mas se não estiver para aí virado pode optar pelo jeep safari – mas dizemos já que as estradas são de terra com muitas pedras e buracos e o jeep safari é mesmo duro.

Além disso, pode organizar viagens de bicicleta por toda a Índia, Kayak, tours da natureza, observação de pássaros, tours fotográficos e culturais, safaris, ecoturismo, entre outras atividades. Os preços começam nas 2.000 rupias por pessoa, já com as refeições incluídas e o trekking, por exemplo. E a comida é excelente!
Durante o dia pode ter um almoço no meio da floresta, onde tem tudo, incluíndo uma casa de banho! À noite, acendem uma fogueira para o convívio de todos, e fazem um churrasco. Ao pequeno-almoço há de tudo um pouco no buffet! Sim, buffet no acampamento!

Durante o dia, num dos passeios de jipe, fomos ver as plantações e ainda passámos algum tempo numa aldeia onde quase todos os habitantes trabalhavam, precisamente, nos campos de chá.

Papathy Shola, assim se chama a aldeia onde parámos no meio do vale. O nevoeiro denso descia rapidamente a montanha e diziam-nos, os habitantes, que dentro de poucos dias iria chover. Sabiam-no só de olharem para o céu.

Nesta pequena aldeia, mais parecida com uma fazenda, está uma casa central com o aviso do pagamento ao dia 10 de cada mês, e os nomes e datas dos feriados locais, assim como as informações para os trabalhadores.

Chegou a hora de almoço. Um grupo de mulheres aproxima-se das casas, na aldeia, para a pausa durante o dia de trabalho nos campos. Os habitantes ficam curiosos com a nossa presença e chamam-nos para conhecermos as suas casas. Todos querem que lhes tiremos fotografias, e depois gostam de se ver no ecrã, rindo muito. Um rapaz novo, de telemóvel na mão, entra na sua casa e vai buscar um computador que parece ser novo. Pergunto-lhe se tem Internet, diz que não, que usa o computador para ver filmes. Em seguida, mostra-nos um dos filmes de Bollywood.

Ao lado, duas mulheres convidam-nos para comer algo (mas dizemos que estamos à espera do resto do grupo), uma outra mulher mais velha pára de cortar a lenha – com uma gigantesca faca – e pede para lhe tirar uma fotografia.

No meio deste cenário surge um pato a banhar-se no correr de água que passa à frente das casas, enquanto um outro casal me pede para lhes tirar uma fotografia.

Cá fora, na rua principal da aldeia, um trator chega carregado de folhas de chá, pronto a ser vendido, e está a ser examinado por um grupo de homens.
Já aqui estamos parados a conviver há cerca de uma hora. As mulheres voltam a sair das suas casas, com os sacos, para voltarem ao trabalho nos campos de chá. Acenam-nos a dizer adeus.
Como se não fossemos embora. Como se amanhã estivéssemos ali de novo. Não estaremos, mas quem sabe um dia…